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quinta-feira, 9 de julho de 2009

Matéria veiculada em rede nacional aponta que a Bahia também é refém de traficantes


Nesta quinta-feira, a Rede Globo transmitiu para todo o Brasil, matéria de autoria do jornalista José Raimundo, retratando ações de traficantes em Salvador e interior do estado da Bahia. A reportagem aponta para a situação de domínio e a impotência das autoridades e a sociedade diante de uma realidade que a cada dia se transforma em pesadelo para todos. Durante a reportagem cenas são mostradas com depoimentos que chocam e já estão passando do nível de “preocupante”, para alerta total.

VEJA TRECHOS DA REPORTAGEM:
A guerra entre as quadrilhas apavora moradores de dezenas de bairros. Os traficantes enfrentam a polícia, fecham escolas, espalham o clima de terror.

"Se a gente não fizer o jogo deles, mandam tocar fogo na casa da gente. E fazer o jogo deles é o quê? É guardar as drogas e os armamentos dentro de casa”, disse um homem que preferiu não se identificar.

Nem os técnicos da Defesa Civil escapam da violência. Na última temporada de chuvas, o carro de um engenheiro foi atacado quando subia o morro para socorrer uma família. "O carro bateu até o motor de tanto tiro que levou no motor e na carroceria”, disse.

Um policial está escondido há cinco meses. Quando os bandidos descobriram que eram vizinhos dele, montaram uma emboscada. "Consegui escapar, consegui fugir e tirar minha família a tempo. Agora moro por aí, agora, no batalhão. Tem cinco meses que não vejo minha família”, disse um homem escondido.

Também ficam sem ver a família trabalhadores como uma empregada doméstica. Quando os traficantes impõem o toque de recolher ela não consegue voltar pra casa. "A partir de 9h30 já está fechando tudo, ninguém pode mais passar na rua”, disse. Perguntada sobre o que faz quando precisa ficar até mais tarde, ela diz: “tenho que dormir no trabalho, meus filhos ficam em casa sozinhos."

Eles atacam até o transporte público. Quando algum traficante morre em confronto com a polícia, em represália, ônibus são assaltados e destruídos.

Todas as empresas de transportes urbanos de Salvador são obrigadas a rodar com câmeras de segurança nos ônibus, é lei municipal. Mas em várias linhas isso não funciona porque os traficantes destroem os equipamentos.

Para evitar que as imagens sejam gravadas eles ameaçam até o motorista. “Já vai destruindo o equipamento com as próprias armas”.

Com medo, vários motoristas já desistiram da profissão. Em alguns bairros, quando os ônibus chegam ao fim da linha, os traficantes assumem a cobrança das passagens.

"Eles botam os passageiros pela frente, cobram as passagens, botam o dinheiro no bolso e, se a gente reagir, a gente morre."

A onda de violência das ações criminosas já ultrapassou os limites da região metropolitana de Salvador. Os bandidos ligados ao tráfico de drogas espalham o medo até nas pequenas cidades do interior da Bahia.

Em Conceição da Feira, de 20 mil habitantes, a promotora de Justiça da Comarca precisa de escolta policial para trabalhar. Foi ameaçada de morte. Ela tem proteção até na porta do gabinete. As ameaças chegam por telefone, cartas anônimas.

"Dizem que eu estou ousada demais e por conta disso, com ou sem escolta, vão me matar. Comentam que estão preparando uma armadilha pra mim", disse a promotora Dhaiane Bulcão.

Mesmo assim ela continua trabalhando no combate ao tráfico. Acompanhada da polícia, vai aos pontos de venda de drogas. Em uma operação, percorreu a periferia da cidade e povoados do município. Prendeu uma moto e um traficante.

"É assustador descobrir que os traficantes já chegaram nesses pequenos lugares das cidades do interior", disse a promotora.

O diretor do departamento de Narcóticos da Secretaria da Segurança Pública, diz que a polícia depende dos moradores para reprimir o tráfico.

"Se é uma situação que está acontecendo em determinados locais, em determinados horários, a população precisa nos informar isso com precisão pra que a gente possa trabalhar”, disse o diretor do Departamento de Narcóticos, Hélio Jorge Paixão.

E enquanto a polícia espera as denúncias para atuar, os traficantes vão ampliando suas ações criminosas e a população, cada dia, mais apavorada. “A gente acorda de manhã e dá graças a Deus por estar vivo”, disse uma testemunha.

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