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quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Inversão de valores

No lado de fora do balcão, pessoas tensas, cansadas de longa espera e sem a menor ideia sobre se seu problema será ou não resolvido. Do lado de dentro, um funcionário de olhar severo, sisudo e inquiridor. “A assinatura do documento não combina com a que temos aqui”, sentencia ao desesperado cliente que tenta reconhecer uma firma. “Posso ver a ficha”, pergunta humildemente o cliente. “De jeito nenhum. É proibido. Só para o titular da assinatura”, responde o sisudo funcionário. O cidadão, conformado, sai em busca do autor da assinatura, que vai com ele até o balcão. Abre-se a ficha de novo e, pasmem, a assinatura desta vez confere. Esta foi uma cena real em um cartório da cidade. Tanto o titular da assinatura como o seu funcionário encarregado de reconhecer a firma tiveram ímpetos de dizer “uma boas” ao boçal funcionário, mas foram contidos pelo aviso, em letras garrafais, dando conta de que “desrespeitar” o funcionário público é considerado desacato e pode dar resultados tais e tais. Punição, enfim, para quem ousar desabafar por ter sido torturado em enorme fila e ainda maltratado pelo funcionário público. O problema, com menor ou maior intensidade, repete-se em praticamente todas as repartições públicas, de todos os níveis (federal, estadual e municipal). O que é no mínimo curioso é que o verdadeiro patrão, que é o cidadão, aquele que paga uma fortuna em impostos que sustentam os salários do funcionalismo, não pode se queixar! Sob pena de ser punido! Uma completa, absurda e intolerável inversão de valores.

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