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segunda-feira, 22 de novembro de 2010

HIPOCRISIA PURA

Nunca se falou tanto em negros, racismo, beleza negra, como nos últimos dias. Encontros, passeatas, atos públicos em geral, seminários, intelectuais pulando de excitação diante de plateias comovidas e outras coisas que fazem parte do cenário. Importante? Muito! Há que se falar no tema, insistir, até que algum tipo de consciência seja criado. Mas não apenas em uma data.
É que, passado o novembro negro, certamente voltaremos à realidade cruel de um país cuja sociedade se diz plural e nega o preconceito de cor, mas onde os fatos mostram exatamente o contrário, a despeito de termos uma belíssima lei, a Afonso Arinos, que pune severamente atos de racismo explícito.
Porém, o racismo implícito grassa de forma espantosa e serei propositalmente “primário” ao argumentar: as agências de publicidade relutam em utilizar modelos negros, e, quando o fazem, agem de forma tão acintosa para mostrar que “não” são racistas, que o racismo fica ainda mais claro; na TV, são raríssimos os apresentadores e repórteres negros, inclusive nesta Bahia, terra composta em sua maciça maioria por negros e descendentes de; não há participação de mulheres negras em concursos de beleza, salvo quando realizados com o fim específico de eleger “a beleza negra”; na política, são também raríssimos os negros em destaque (e, aí, lembro o ator Milton Gonçalves: “Negro também pode ser corrupto”); no Judiciário, a presença de um ministro negro é motivo de destaque nacional, tão rara é a ocorrência de negros nas cortes, e podemos ir ainda mais longe constatando a raridade de negros entre médicos, professores universitários, times de vôlei, basquete etc.
Pois é. Pelo visto, acontece com os negros o mesmo que vemos, por exemplo, com as crianças abandonadas: muitas ONGs, inúmeros discursos, Criança Esperança, muito dinheiro...E as ruas cada vez mais cheias de crianças miseráveis.

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